Manuela Broering Gomes da Mata[1] [1] manudamata@hotmail.com
Falar o que está acontecendo, sobre o que se passa na cabecinha e dentro do coraçãozinho de uma criança não é tarefa fácil para ela. O seu mundo interior é gigante se comparado com seu vocabulário. Ela tem muito a mostrar, a compartilhar, a interagir, a desabafar. Mas esse tipo de expressão verbal não faz jus ao que ela pode dizer e revelar. O seu mundo verbal ainda é restrito. A criança é mais que palavras, ela é criativa, inusitada, verdadeira, expressiva, pura, seu self está plugado ao modo artístico de expressão, mediante o qual transfere de maneira natural todos seus afetos, medos, anseios e emoções. E, mesmo sem que ela se dê conta, por meio das artes plásticas e da expressão corporal vai se equilibrando emocionalmente, explorando seu inconsciente, seu mundo interior, expondo-o, desenvolvendo maior autoconsciência, pensamentos positivos e elucidativos, autoestima, junto de um aprofundamento na criatividade. A infância é marcada por um período de intenso desenvolvimento não só cognitivo e físico, mas também emocional. Essa maturação está diretamente ligada com as experiências que vivencia no meio em que está inserida. Mas cada ser é individual e é afetado por diferentes influências de forma singular. Essas mudanças de comportamento, de entendimento, se tornam conflitantes e por vezes as emoções se tornam um caos. A sua falta de compreensão e o surgimento de sentimentos diversos geram desequilíbrio emocional, afetando diretamente os sentimentos da criança, pois aquilo é algo novo e ela não sabe lidar com eles ainda, não tem o discernimento para a sua compreensão, tem dificuldades para se expressar verbalmente, e às vezes sem o auxílio de um adulto ou de um cuidador a situação fica ainda mais complexa.
Entre as várias possibilidades de suporte nessas situações, coloca-se uma questão: será que a Arteterapia consegue proporcionar esse equilíbrio emocional para essas crianças? Será que ela é transformadora mesmo? Algumas respostas podem indicar caminhos seguros a seguir nessa jornada de apoio a crianças. A Arteterapia não é somente uma forma de tratamento, é muito mais, é forma de comunicação, expressão, exploração, descoberta, cura de traumas. É fazendo parte desse processo criativo que o ser ali integrado já está em processo terapêutico, pois essa prática não requer habilidades e nem experiência dos atendidos. É somente se deixar levar, ser sincero e explorador de seu interior. Dentro desse contexto seguro, as crianças podem receber apoio necessário para se descobrirem mais fortes, visualizarem seus anseios, suas dúvidas, e se verem desbravadores de novos caminhos para solucionar seus problemas. Podem expressar seus sentimentos sem regras ou tabus. Pois a arte é transformadora. O profissional arteterapeuta, coadjuvante nesse processo, passa a compreender aquele serzinho que parecia frágil como um conhecedor profundo de seus sentimentos, mas que, por vezes, podem estar desalinhados, confusos, incompreendidos. E é aí que ele se torna o protagonista, assumindo o papel fundamental de auxiliar o infante à compreensão e ressignificação de seus sentimentos. Nessa dialética entre o arteterapeuta e a criança, toda a simbologia da arte é trazida à consciência. Aquilo que na tentativa verbal pode parecer frustrante, com as atividades plásticas expressivas torna-se claro, beneficiando a criança com calma, autorregulação e entendimento. Tudo isso se relaciona com aquilo que Jung (1964) coloca quando propõe que o inconsciente pessoal corresponde às camadas mais superficiais e o inconsciente coletivo refere-se às camadas mais profundas desse universo, estruturas psíquicas que são comuns a todos. PHILIPPINI (1995) também traduz esse processo como colaborativo na compreensão e resolução de estados afetivos conflituados, favorecendo a estruturação e a expansão da personalidade através da criação. Por meio da arte, a criança vai desenvolvendo uma criatividade que muitas vezes está abafada dentro do ser.
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