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Foto do escritorNAPE - Núcleo de Arte e Educação

O mito de Atlas e a sobrecarga feminina: Uma jornada criativa de autocuidado

Andressa Silvestre Machado[1] Fernanda Netto do Nascimento[2] Juliana Claro França [3] Lenise dos Santos Gonçalves[4] Nayara Flôr Marques Penteado [5] Rebeca Batista de Melo Martineli


Texto retirado da página 203 do livro: Contos e mitos em Arteterapia


“[...] Minha vida ficou plena de sentido quando descobri que tão importante quanto cuidar do outro é cuidar de si.” Ana Claudia Quintana Arantes



Diante de uma influência socio-histórica-cultural, atribui-se à mulher o papel principal de cuidadora, função na qual elas imergem, muitas das vezes, em sua devoção ao cuidado do outro, negligenciando o próprio cuidado. Tornam-se invisíveis no seu próprio espelho. O portal da Fiocruz publicou em agosto de 2020 um apontamento sobre metade das mulheres brasileiras terem passado a cuidar de alguém na pandemia da covid-19. Mulheres essas que, diante de protocolos de isolamento e demandas de pessoas doentes na família, precisaram adaptar de modo significativo suas rotinas, sentindo com isso uma sobrecarga ainda maior. Para além da pandemia, embora talvez mais expresso nesse contexto, esse público sempre existiu: mulheres cuidadoras, sem remuneração. Sob essa perspectiva, o cuidar do outro torna-se uma sobrecarga, que promove a sensação de carregar o mundo nas costas. Diante deste cenário, quem cuida da cuidadora? Como promover o autocuidado dessas mulheres? Estariam elas tão sobrecarregadas a ponto de não ter tempo para si ou a invisibilização e falta de escuta faz com que essas mulheres mergulhem apenas no cuidado ao outro?


Ao encontro dessas questões, o presente ensaio visa, à luz da Arteterapia articulada à simbologia do Mito de Atlas, refletir sobre a importância de permitir a essas mulheres o acesso a um lugar seguro e de possibilidades, promovendo o autocuidado e autoconhecimento através do fazer criativo.


A palavra criatividade é oriunda do verbo criar, do latim creare, ou seja, um ser criativo é aquele que produz algo. OSTROWER (2013, p. 9) introduz, a respeito da criatividade, que “criar é, basicamente formar […] o ato criador abrange a capacidade de compreender, e esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar”. É em si um potencial e algo necessário para o desenvolvimento humano. A partir daí, pensar no ato de criar como o de formar, correlaciona-se ao que Philippini (2021) considerou a respeito da Arteterapia, um percurso no qual possibilita informar, no sentido das imagens simbólicas às quais o sujeito expressa, se depara, se comunica, se informa, para então poder se transformar. Sendo assim, entende-se que a atitude criativa é um potencial inerente a todo ser humano e como todo potencial, precisa ser desenvolvido.





A Arteterapia, então, cumpre esse papel de possibilitar tal estímulo, pois utiliza de diferentes materiais artísticos expressivos tais como o desenho, a pintura, a tecelagem, modelagem, dentre outros, conduzindo a um processo criativo e simbólico.

Outro condutor de autotransformação através do simbólico é a mitologia. Os mitos, que nos aproximam de nossa experiência humana, universal, são sentimentos e pensamentos compartilhados pela humanidade, o que Jung (2000) denomina como nosso inconsciente coletivo, auxiliando, segundo Campbell (1991) a perceber e colocar o foco na experiência de estar vivo como pistas que nos mostram as possibilidades da vida humana. Sendo assim, recorreu-se neste trabalho ao mito de Atlas, trabalhando a metáfora “de carregar o peso do mundo” (grifo nosso), unido à prática arteterapêutica para que mulheres cuidadoras pudessem se reconhecer nessa sensação de sobrecarga e, para muito além disso, pudessem construir caminhos que as levassem para uma vida com mais autoaceitação, autocuidado e leveza. Para entender sobre essa jornada, quatro questionamentos foram feitos: “Como estou?”, “Quem sou?”, “O que necessito?” e “O que pretendo realizar?” Com 13 participantes que tinham entre 30 e 50 anos e eram cuidadoras não remuneradas - cuidavam dos filhos, maridos e pais idosos. A jornada resultou num olhar delas para si mesmas e a possibilidade de formar, informar e transformar.


“Como estou?” e o castigo de Atlas


Na mitologia grega, Atlas era filho de Jápeto e Clímene e se juntou a outros titãs que, assim como ele, representavam as forças do caos e da desordem para atacar Zeus e seus aliados, representantes das energias do espírito, da ordem e do Cosmos, para alcançar o poder supremo. Ao final da batalha, Zeus os derrotou, lançando seus inimigos, considerados escravos da matéria e dos sentidos, ao Tártaro (BULFINCH, 2002; GALAHAD, HESÍODO, 1995). No entanto, para Atlas o castigo foi diferente: o de sustentar nos ombros o peso dos céus para sempre. Seu nome passou a significar “portador” ou “sofredor”. Depois de ser castigado, Atlas passou a morar no país das hespérides, terra de suas 3 filhas, Ninfas do Poente: Eagle, Eritia, Hesperatetusa. A Arteterapia é permeada pelos vínculos, então, se faz necessário que as mulheres se conheçam e compreendam a importância desta.


Acompanhe o resultado desse processo Arteterapêutico no livro: Contos e Mitos na Arteterapia- NAPE

Link para download: https://pinturaespontanea.org/

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